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ARTIGOS

A influência da cultura narcisista no culto e na liturgia...
Vivemos em um tempo em que a cultura do narcisismo tem influenciado substancialmente o comportamento da sociedade. Em síntese, o narcisismo é uma espécie de conceito filosófico que tem sua origem no personagem da mitologia grega Narciso que se perpetuou por sua fixação em si mesmo.
Um dos mitos relacionados a ele expressa que, encantado por sua beleza ímpar refletida enquanto olhava para um Lago, o levou a cair na água afogando-se.
Narciso de certa forma é a base conceitual para o que designo como culto da imagem ou da aparência. Penso que nunca em toda história a atenção à imagem e à aparência esteve em tamanha evidência como percebemos na atualidade.
Creio que redes sociais são, em parte, as grandes responsáveis por esta propulsão voluptuosa ao culto da aparência.
Dizer culto da aparência, não é um exagero quando observamos o quanto milhares de pessoas possuem uma vida de devoção à sua imagem, buscando desenfreadamente demonstrar algo que não representa sua essência, são escravos da exterioridade, reféns do que suas aparências projetam.
As pesquisas de mercado apontam que o segmento de cosméticos e afins, se manteve em alta mesmo nos momentos de significativa crise econômica, confirmando estatisticamente a afeição desta geração pela aparência.
Interessante notar que, uma das raízes etimológicas do nome “Narciso” segundo alguns linguistas é “Narke”, a mesma palavra que dá origem ao termo narcóticos. De certa forma uma parcela significativa da humanidade está entorpecida por esta cultura, tal como um viciado em drogas se perde de si mesmo na busca por satisfazer seu vício, muitas pessoas estão perdendo-se do que realmente são na transloucada busca por oferecerem o que compreendem ser sua melhor imagem.
Se observamos com algum cuidado conseguiremos notar que esta cultura tem influenciado potencialmente a forma de prestarmos culto e adoração a Deus.
Nunca fomos tão performáticos como na atualidade, a performance tornou-se em muitos casos mais importante do que o propósito. Os efeitos de imagem, a estrutura visual, o “show” tem lamentavelmente suplantado a legitimidade da adoração em muitos lugares.
Na ideia de impactar e atrair a massa, supervalorizamos a imagem e a aparência que ela produz, fazendo com que sejamos grandiosos na perspectiva do espetáculo mais apequenados na perspectiva de vida e essência.
Não há dolo em buscarmos formas mais eficientes de transmitirmos a mensagem, nem mesmo de usarmos dos melhores recursos disponíveis para aprimorarmos a nossa forma de cultuarmos a Deus e alcançarmos as pessoas, porém o erro se estabelece quando esta busca ofusca a legitimidade do nosso culto, produzindo uma devoção visual e artificial.
O que Jesus mais confrontou na classe religiosa de seu tempo foi a hipocrisia. A palavra hipócritas ocorre 20 vezes nos evangelhos sinópticos. O sentido imediato da palavra é literalmente ator ou aquele que usa máscaras, hábito comum aos que exerciam artes cênicas nos dias de Jesus.
De forma mais simples Jesus rechaçou a devoção interpretada e estereotipada praticada por eles onde as expressões físicas e vocais como o levantar de mãos e retórica ilibada eram feitas sem conexão com o que perfazia o coração.
O problema de um culto influenciado pela cultura da aparência é que, o indivíduo pode levantar as mãos em sinal de adoração ou mesmo se jogar ao chão em sinal de profundo arrependimento, usar palavras e expressões que encantam, mas, que não traduzem o que se sente ou pensa genuinamente.
O culto da aparência reduz a adoração a uma espécie de pirotecnia que impressiona pela beleza das cores e sons que produz, mas não possui efeito duradouro, logo se esvai, limita-se apenas aquele momento, se estabelece somente enquanto pode ser vista e aplaudida. Não permanece quando as cortinas se fecham, quando as luzes do templo se apagam, quando se volta para casa, quando se convive familiarmente e profissionalmente.
Precisamos urgentemente recobrar o sentido de que o mais importante como dito pelo profeta Joel “não é rasgar as vestes, mas o coração”. Necessitamos compreender o princípio da verdadeira adoração expressado por Jesus no épico encontro com a mulher samaritana de que, “Os verdadeiros adoradores adoram em espírito e em verdade”. Em espírito porque se estabelece primeiro dentro, e em verdade porque é sincero, ou seja, não se trata de uma devoção encerada e maquiada pela aparência.
Por fim, tal como Narciso morreu afogado em razão da obsessão por sua beleza, tal como os fariseus foram asfixiados pelas máscaras da religiosidade que exerciam, se não nos acautelarmos podemos ter semelhante fim, morrermos entorpecidos pela ilusão de uma devoção superficial e aparente.
Que o bom Deus por meio do Espírito Santo nos guie à prática de uma adoração genuína que se estabeleça em vida e não somente em determinados momentos.
Rev. Edson Jr – Brighton / outubro de 2020
Revisão de Texto: Izolda Roder
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