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A ironia da religião

 

Considerando a reflexão proposta para este módulo, gostaria de ter em foco a palavra religião, destacando primariamente o conceito desta expressão a partir de uma avaliação semântica e conceitual.

A palavra religião é uma palavra rara no conjunto textual do novo testamento, havendo apenas 4 ocorrências. Dentre estas, três são explícitas, sendo em Atos 26:5; e Tiago 1:26 e 27, inclusive em Colossenses 2:18, onde o termo aparece como culto ou adoração, mas no original trata-se do mesmo termo de origem dos versos mencionados anteriormente.

Nos textos bíblicos o original da palavra procede do grego “treskeia” que possui o sentido de adoração, observância cerimonial ou culto.

Os linguistas não têm chegado a um consenso quanto a etimologia correta desta palavra. Quando consideram sua origem a partir do latim alguns sugerem que a palavra deriva-se do termo religari que possui o sentido de religar ou reatar. Outras, defendem que a palavra é oriunda do termo religio que tem o sentido de respeito ou reverência. Há ainda os que a associam ao termo “relegere” que possui o sentido de reler e revisitar, sugerindo que alguém religioso é alguém afeito a revisitação de seus dogmas. Isto citando apenas os principais pressupostos do significado desta terminologia. 

No conceito popular geral porém, religião está ligada a um determinado segmento de fé (Cristianismo, Judaísmo, Islamismo, Budismo, Hinduísmo...) ou mesmo a uma série de dogmas, preceitos ou padrões adotados por um povo ou indivíduo que regulamente tem um culto ofertado a uma determinada divindade.

Após a queda no Éden, no desenrolar da história o homem buscou meios ou maneiras de se reconectar com a divindade, para isto, desde os primórdios nas diversas culturas e povos observaram-se sistemas de culto ou adoração que viabilizassem esta conexão.

A forma de desenvolvimento da religião, compreendendo-se religião como culto ou adoração, eram em alguns casos extremamente rudimentares e simples e em outros sofisticados e complexos.

Mas, independentemente da forma, o objetivo era que por meio destes processos fosse possível uma aproximação da divindade escolhida para adoração ou prestação de culto.

Este conceito de busca por comunhão também é observado na religião Cristã. Ao longo da história da igreja fomos desenvolvendo formas e sistemas litúrgicos que pudessem contribuir com nosso relacionamento com Deus.

No período primitivo, como observado em nossos estudos, as formas eram mais simples e práticas, mas à medida em que a igreja se desenvolveu e cresceu obtendo maior influência, sua maneira de buscar comunhão foi ganhando maior complexidade.

E foi neste processo de crescimento e influência que uma parcela significativa da comunidade Cristã se perdeu, o que passo a designar como a “ironia da religião”.

Ironia no sentido de que, na busca de aproximação, houve um distanciamento que se estabeleceu no desenvolvimento de práticas ou maneiras de se relacionar com Deus. Nos quais passou-se a dar mais atenção aos processos do que à finalidade para os quais eles foram estabelecidos.

De forma prática, o que estou dizendo é que a observação detalhada de certos aspectos litúrgicos e dogmáticos provocaram uma supervalorização das formas e uma rejeição ainda que inconsciente de quem se dizia buscar.

 A ideia é como se alguém oferecesse uma festa se esmerasse em decorá-la, em comprar o melhor bolo, em organizar detalhadamente os espaços, convidasse uma diversidade de pessoas, mas se esquecesse de convidar o aniversariante.

A ironia da religião se estabelece quando nossa atenção aos ritos, liturgia, dogmas e regras superam a atenção que deveríamos oferecer a Cristo.

É preciso sermos vigilantes para não cairmos neste engodo que sugere aproximação quando na verdade estamos distantes.

São Tiago em sua epístola capítulo primeiro e versículo 27, nos oferece algumas lições importantes, para que não venhamos sucumbir ante a uma religião ou adoração vã.

“A religião pura e imaculada diante do nosso Deus e Pai é esta: visitar os órfãos e viúvas nas suas dificuldades e não se deixar contaminar pelo mundo”

Como mencionado anteriormente a palavra grega que dá origem para religião é treskeia que possui o sentido de culto e adoração. Partindo desta compreensão passemos a avaliar o texto acima.

Podemos parafrasear a citação de Tiago dizendo que “a adoração ou culto que Deus se agrada é assistir órfãos e viúvas em suas necessidades e manter-se imune das contaminações do mundo”.

Ao sugerir uma adoração ou culto imaculado, Tiago está tratando de um padrão de adoração que nos aproxima de Deus.

A palavra imaculado no original é “amianto” que significa sem mancha ou sem contaminação. É possível conceber que o que se propõem a seguir trata-se de um padrão de culto ou adoração que não sofreu nenhum tipo de influência do mundo, pois estas influências agem como agentes de contaminação comprometendo o processo de adoração genuíno.

Neste texto o culto é designado em uma posição que transcende os processos litúrgicos realizados no templo. Perceba que a ideia de visitar ou assistir órfãos e viúvas é algo que se faz fora da geografia do templo e longe dos processos litúrgicos que aparentemente aproximam o adorador daquele que é adorado.

Além disto, o texto ressalta que a manutenção de uma vida de santidade ou de separação do mundo é que nos aproxima de Deus. 

Por fim, o que aprendemos neste texto é a necessidade de atenção para não sermos adeptos a uma religião vã que sugere que estamos próximos quando na verdade estamos distantes.

Rev. Edson Jr 

“texto escrito em 2019 em adaptação a texto publicado no informativo interno da Logos International Church Volume 1 em setembro de 2016”

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