

“Spreading the good news to the world”
“Espalhando as boas novas para o mundo”
“Difundiendo las buenas novas para el mundo”
ARTIGOS

Os pés do pavão
Entre as aves o pavão possui singular lugar, sua postura ereta, seu movimento pomposo, aditado a sua policromia atestam sua distinção.
Desde a antiguidade o pavão fascina os homens, na Índia tida como possível local de sua origem teve sua imagem associada a reis e divindades, mas não somente os asiáticos e orientais se renderam aos encantos de tão exuberante ave, seu fascínio alcançou os nobres da Europa havendo registros a seu respeito na literatura e nas artes de Gregos e Romanos.
No período medieval não raro se via pinturas de seres angélicos com asas de pavão, em alguns casos personagens tidos como santos foram ilustrados voando sob as asas desta bela ave.
No famoso livro de Kells ou São Columba uma preciosa literatura de viés artístico produzida por monges Irlandeses no ano 800 d.c em uma das ilustrações Jesus está ao centro e na parte superior aparece a ilustração de dois pavões.
Estas ligeiras menções trazem a lume o deslumbramento que esta exótica ave exerce naqueles que a contemplam.
Porém a despeito de sua extravagante beleza, como dito em um antigo proverbio inglês “O pavão tem respeitáveis penas, mas, desleais pés” em uma referência a uma pecha que a séculos persegue esta célebre ave.
Após esta breve introdução que visa estabelecer uma confrontação entre a exuberância projetada na plumagem do pavão em contraposição com o feiume de seus pés.
Passo a discorrer sobre algo que jugo transcender o sentido primário da observação estética desta ave.
O fascínio pelo pavão é uma constatação de nossa atração pelo belo, multicor, impressionante, diferente, é uma aferição de nosso apego a projeção da imagem.
O problema, porém, consiste no fato de que por vezes o “exibir das penas” é uma busca em distrair o olhar dos pés, e nesta perspectiva mais amplificada de observação precisamos compreender que os pés dizem mais sobre nós do que as penas.
Isto porque as penas projetam a beleza e estupefação, o encantamento e o deslumbramento, os pés por sua vez revelam por onde andei e no que pisei.
Um dos ramos da ciência forense é a “forensic podiatry” ou podiatria forense, ao que parece ainda não sistematizada ou formalizada no Brasil, mas já exercida na Europa, Estados Unidos e Canada entre outros, esta ciência tem como premissa a observação de pegadas em eventuais cenas de crime por meio de análise, avaliação, comparação e verificação.
O Reino Unido mantem desde 2007 um banco de dados com registros de pegadas, isto por que de acordo com Romille Piercy, do laboratório de Ciências Forenses, em Londres, em entrevista nos idos de 2007, os agentes da Polícia registram as pegadas de calçados em 40% dos lugares que inspecionam após a execução de um crime.
Alguns estudiosos da podiatria forense em trabalhos mais recentes tem se dedicado em desenvolver pesquisas com as quais seja possível aferir o peso e até o sexo de um indivíduo por meio da análise de suas pisadas.
A literatura forense possui exemplos de crimes solucionados a partir da criteriosa avaliação de pegadas deixadas no local do ocorrido.
Mas antes mesmo do desenvolvimento desta ciência, aborígenes e outros indígenas se especializavam em identificar indivíduos através de seus rastros.
Estas informações ainda que em síntese ilustram a perspectiva que estamos desenvolvendo de que nossos pés podem indicar ou revelar o que fizemos.
Movendo-se da perspectiva filosófica e forense científica para a perspectiva bíblico teológica, perceberemos que os pés estão em geral associados ao nosso caminhar ou andar, que por sua vez tem o sentido de vivência e conduta.
Em Genesis 5:22 o texto diz que Enoque andou com Deus, no sentido de que ele manteve uma vida de relacionamento com o Senhor, em Genesis 17:1 o Senhor estimula Abrão a andar na sua presença em outras palavra viver na sua presença, no Salmo 1 e verso 1 o salmista expressa que são bem aventurados os que não andam em conformidade com o conselho dos ímpios em outras palavras os que não vivem conforme a influência dos que não tem temor há Deus, São Paulo em sua epistola aos Efésios 4:17 exorta quanto a não andar conforme os gentios, que implica não viver conforme os que ainda não conheceram a Cristo, em Gálatas 5:16 ele expressa quanto a necessidade de andar em Espirito, ou seja, viver no Espirito a fim de não cumprir os desejos da carne.
Os textos mencionados chamam a atenção de que na perspectiva bíblica nossos pés estão relacionados com os caminhos que trilhamos, de forma mais direta com os atos que praticamos.
Deus não se impressiona com as penas da retórica, da fama, dos views e likes nas redes sociais, dos talentos e performances impecáveis, o que atrai a atenção e aprovação de Deus é a condição de nossos pés ou em outras palavras de nossas vidas e ações quando distante dos olhares da plateia ávida pelo espetáculo das penas.
Em resumo para Deus a vida precede a projeção, diante Dele ainda se faz necessário desnudarmos os nossos pés, retirando todo invólucro das sandálias da aparência de modo a deixarmos patente quem de fato somos.
A reprodução deste texto somente é permitida em sendo feita menção do autor e data de publicação;
apropriação de propriedade intelectual é crime previsto por lei.
©Copyright Logos Publisher 2021
............................................................................................................................................................................................
Referências Bibliográficas
Os cem olhos do pavão
The hundred eyes of the Peacock: Representations of the bird in the Middle Ages and its symbolic origins - Marcelo Amato Cardoso
Open Edition Journals
Publicado: 28/08/2019
Examination and Interpretation of Bare Footprints in Forensic Investigations
Wesley Vernon, Sarah Reel, Nicolas Howsam
Division of Podiatry and Clinical Sciences, University of Huddersfield, Huddersfield, UK
Published 7 October 2020 Volume 2020:10 Pages 1—14
DESCALÇA-TE, A TERRA É SAGRADA: A HERMENÊUTICA DE LUÍS DA CÂMARA CASCUDO NA HISTÓRIA BÍBLICA DO ÊXODO 3:5. Erielton Souza Martins (PUC-Minas)
Imburana – revista do Núcleo Câmara Cascudo de Estudos Norte-Rio-Grandenses/UFRN. n. 13, jan./jun. 2016
Bíblia Almeida Século XXI – Edições Vida Nova 2008.
e-sword hd – Richard Meyers