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ARTIGOS

Franchising da fé.
Por estes dias tenho considerado sobre a constituição de igrejas que atendem mais a um perfil de franchising ou franquia do que ao ideal de uma igreja a luz da perspectiva bíblica.
Antes, porém de seguirmos, creio ser importante compreendermos o que é uma franchising. O termo, embora em inglês, tem suas origens no francês arcaico “franchisage”. Na perspectiva dos franceses a expressão implicava na concessão de determinado privilégio ou benefícios. No período feudal francês as cidades franqueadas recebiam a outorga de usufruírem de benefícios e vantagens reservados até então somente aos senhores feudais.
Embora este conceito em suas raízes esteja vinculado aos franceses, foram os estadunidenses que deram a ele propulsões[IR1] globais.
Com o aumento da procura dos bens de consumo e desenvolvimento das indústrias, impulsionado pela revolução industrial nos Estados Unidos, viu-se a necessidade de atender de forma mais rápida e efetiva os diversos mercados de um país geograficamente extenso, e para isto os empresários viram nas franquias uma possibilidade de fazê-lo.
O processo consistia basicamente em uma empresa ou indústria outorgar a um empreendedor local sua marca e estratégias de desenvolvimento de produto. Com isto, o mesmo[IR2] poderia distribuir com maior eficiência os produtos e bens desta companhia em áreas onde o processo logístico era mais complexo, o que demandaria maior tempo e investimento para o estabelecimento. Neste modelo o empreendedor usufruía do know-how e prestígio de uma empresa consolidada e, por sua vez, a empresa desfrutava da possibilidade de acessar mais mercados, aumentar seu lucro mesmo que concedendo parte deste ao franqueado.
Registros históricos apontam que este modelo passou a ser desenvolvido nestes moldes a partir de meados do século 19 por uma empresa que fabricava máquinas de costura chamada de “Singer Sewing Machines”. Ao fim do século 19 empresas como General Motors e Coca-Cola, respectivamente em seus setores viram nas franquias uma forma de alavancarem seus negócios.
Com o passar dos anos os formatos foram se diversificando e ampliando, permanecendo até hoje como um modelo operacional bem-sucedido de diversas gigantes do mundo empresarial.
Porém, retomando a abordagem inicial após este breve vislumbre em relação ao panorama semântico e histórico do mercado de franquias, minha reflexão se dá pelo fato de que este mesmo modelo vem sendo adotado e absorvido por vezes inconsciente e por vezes conscientemente por muitos daqueles que se dispõem a plantar uma igreja.
O que geralmente faz um empreendedor tornar-se franqueado de uma determinada empresa é o seu potencial comercial, em outras palavras, seus números.
Existem duas perspectivas numéricas que se considera quando se pensa em abrir uma igreja. Uma é a de pessoas alcançadas, outra é a de recursos econômicos que se possa alcançar através das pessoas que serão alcançadas.
Quando se trata de uma empresa o número de pessoas atendidas deve ser buscado a fim de se obter maior faturamento.
Contudo, esta perspectiva não deve ser absolutamente adotada em quando se trata de uma igreja. É certo que recursos monetários são necessários para que se desenvolva as questões organizacionais e assistenciais da igreja, mas a busca destes recursos não deve ser a motivação de se alcançar pessoas. As vidas é que devem ser a motivação central de uma igreja. Por consequência, os recursos devem ser usados para servir estas vidas.
Todavia, lamentavelmente o que se vê são pseudo vocacionados que desconsideram o ideal de plantar uma igreja. Na verdade, para estes o termo plantar é obsoleto e indesejado, pois plantar implica em preparar o solo, cavar, lançar a semente, regar, adubar, cuidar, proteger de insetos, acompanhar, podar, esperar até que se desenvolva. Para estes os processos são muito longos e complexos por isso são mais afeitos ao termo abrir, por que abrir não demanda cuidado, abrir é mais prático, rápido e rentável. São adeptos do pragmatismo em seu sentido mais vil, suas almas estão comprometidas com números e não com pessoas.
Por isso, não estão interessados em apresentar-lhes a verdade do evangelho a fim de que cresçam e desenvolvam-se de forma saudável. Se alguma prática do indivíduo alcançado é nociva e falar ou tratar esta prática coloca em risco sua permanência na igreja, então não será mencionado sobre a nocividade de sua prática. Ao contrário, manter-se-á o indivíduo sob a tutela do engano e da ilusão, pois, sua permanência na igreja, ainda que no erro, precisa ser preservada para que os números não sejam comprometidos.
Outra questão absorvida do conceito de franquias é que a franquia padroniza os processos. Em qualquer lugar do mundo que você for no Mcdonalds será possível observar que eles mantem uma linha similar de serviços e produtos, porque a ideia é que o cliente do Brasil sinta a mesma sensação do cliente dos Estados Unidos ou do Japão ao entrar em uma de suas unidades.
Esta práxis das franquias tem norteado muitas igrejas, as quais são desprovidas de identidade. Basta um rápido acesso à internet para se perceber igrejas que mantem a mesma liturgia, estética e processos, sendo que a questão não está em se inspirar em um ministério bem-sucedido, o problema está em buscar fazer igual apenas pelo resultado, desconsiderando a realidade, a necessidade, a linguagem ou mesmo a identidade de cada lugar.
Não podemos desconsiderar a faceta organizacional da igreja, porém mais que uma organização ela é um organismo com a missão de propagar a Cristo e servir pessoas.
Revisão : Izolda Roder
Autor : Rev. Edson Jr
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