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Jumentos no Poço

O texto do evangelho de Lucas 14 a partir do verso 1 expressa que Jesus, certo sábado, entrou na casa de um eminente fariseu. Ao que parece Jesus não possuía nenhuma relação prévia com seu anfitrião e asseclas, assim, o convite possivelmente tenha sido ofertado em conformidade com a hospitalidade do oriente, onde era comum que o líder religioso de determinada aldeia ou cidade, em passando pela localidade um rabi ou mestre de relevância, fosse recebido por não menos que o maioral em termos religiosos da região. 

 

O verso primeiro é concluído dizendo que Jesus era observado pelos demais à mesa. O termo no original grego para “observar” é “paratereo” que é uma junção das palavras gregas “para”, perto e “tereo”, vigiar. Esta expressão sugere que o convite dos fariseus tinha como motivação inspecionar Jesus no objetivo de encontrar alguma falta que viesse lhe comprometer, o que era uma postura recorrente deles, (Mc 3:2, Lc 6:7; Lc 20:20). 

 

A sequência do texto expressa que diante de Jesus havia um homem que sofria de hidropisia, doença em que membros do corpo ficam inchados em razão de retenção aguda de líquidos.Os estudiosos compartilham de perspectivas distintas quanto a este ponto. Alguns acreditam que o homem estava ali por iniciativa própria a fim de aproveitar a oportunidade de,estando diante de Jesus, ser curado como já havia acontecido com outros. Contudo, há aqueles que defendam que o homem foi colocado de forma proposital diante de Jesus pelos fariseus como uma espécie de armadilha, em uma transloucada tentativa de o acusarem de quebrar o sábado, o que parece de certo modo razoável se considerarmos o contexto geral; dado o caráter separatista dos fariseus alguém afetado por uma doença como esta provavelmente não teria lugar em um encontro desta envergadura. 

 

Jesus, a exemplo de outras ocasiões (Lc 6:8), discernindo o ardiloso intento de seus anfitriões, pergunta-lhes, “é correto curar no sábado ou não?”. A provocativa pergunta de Jesus, ecoou não obtendo retorno além de um silêncio constrangedor; o verso 4 é finalizado com o homem sendo curado e despedido a sua casa. 

 

A tônica deste texto, no entanto, consiste na ideia presente na penetrante fala ou arguição de Jesus realizada no verso 5 “E disse-lhes: Qual será de vós o que, caindo-lhe num poço, em dia de sábado, o jumento ou o boi, o não tire logo?” ARC 

No contexto genérico das escrituras jumentos eram usados para o transporte pessoal e comercial, na debulha de grãos,bem como para puxarem o arado, dado a sua força e resistência. 

A aplicação da figura de linguagem no texto por Jesus tinha como objetivo chamar atenção dos fariseus e eruditos da lei, quanto suas equivocadas impressões em relação ao shabbat. 

No texto em questão Jesus os constrangeu deixando-lhes patente sua anômala predileção aos animais em detrimento ao seu semelhante. 

 

J.C Ryle em sua obra Expository Thougths on the Gospels Volume two faz uso de uma menção a qual atribui ao Frei Diego de Estella Séc. XVI na qual se lê em tradução livre

“...Ele os confrontou por serem mais cuidadosos com cavalos e mulas que transportavam seus equipamentos, do que com o doente, pobre e necessitado de sua sinagoga; eles não eram como Jó que não rasgou suas vestes ao saber da perda de seus jumentos e camelos, mas sim quando seus filhos e filhas morreram...” 

 

Os jumentos e bois por sua intrínseca relação com o trabalho e esforço são uma espécie de representação de nossas “estruturas”, as quais demandam intenso labor e dedicação para que possam funcionar. 

Denomino estrutura o que está relacionado a construções, compras, vendas, programações, promoções, instituições, eventos, entre outros.

O problema consiste na lamentável constatação de que por vezes a exemplo dos fariseus, temos maior urgência em acudir estruturas do que as pessoas. 

Não há aqui uma espécie de rejeição plena das estruturas, mas um convite a repensarmos a posição que elas devem ocupar. 

Jesus não estava rechaçando os fariseus em socorrerem seus animais em caso de acidente, a questão aqui está no princípio ou na prioridade do socorro. 

As estruturas devem servir as pessoas e não o contrário, enquanto demandamos tempo acudindo jumentos que caíram no poço tem gente morrendo a nossa volta. 

Em quantos lugares se vê magníficas estruturas as vezes vazias de pessoas, porque enquanto se investiu tempo e recursos nelas aquilo que é mais importante se perdeu. 

Mas para além disto é possível constatar também estruturas apoteóticas que estão cheias, mas lamentavelmente cheias de gente vazia, vazias de amor, sustento, relacionamento, acompanhamento e alimento. Tanto se deu para a manutenção das estruturas que para estas nada restou. 

Que sejamos as mãos de Cristo prontamente curando e servindo os fragilizados pelas tantas agruras e desafios existenciais, a despeito de priorizarmos os jumentos no poço.

 

Rev. Edson Jr / agosto de 2022

Revisão de Texto : Izolda Roder 

 

Bibliografia 

Bíblia Sagrada Almeida Século 21 – Edições Vida Nova 2013 

Expository Thoughts on The Gospels Volume Two– Luke – Baker Books 2007 

Dicionário da Vida Diária na antiguidade bíblica e pós-bíblica – CPAD 2020

The Expositor`s Bible Commentary – (Volume 8 Matthew, Mark, Luke) - Zondervan 1984 

Bíblia de Estudo Palavras-Chave ARC – Hebraico e Grego – CPAD 2015 

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